Miúda,
olhos castanhos e amendoados, cabelos também castanhos feitos em cachinhos,
pele morena queimada de sol, pesinhos pequenos e delicados, vestidinho de chita
colorida feito por sua mãe na antiga máquina que muitas vezes ela teimava em
reinar.
Assim
era Maria, esperta, travessa, curiosa, amorosa nos seus seis anos de vida.
Todos
os empregados do pequeno sítio onde morava adorava essa criaturinha mimosa que
vibrava com o nascimento de mais um bezerrinho e chorava quando um animalzinho
quebrava a pata ou apresentava qualquer ferimento. Ela o aconchegava no colo e
corria esbaforida para mãe que se dividia em dar ordens às empregadas e a sua
velha máquina de costura onde preparava as roupas de toda vizinhança;
-
Mãããe, mãe, olha o pintinho com a pata quebrada.
A
mãe que era também uma pessoa muito bondosa tinha que largar os afazeres para
ajudá-la num curativo onde colocavam um palitinho de fósforo e embalavam a
perninha quebrada com um pequeno pedaço de retalho. Então ela carinhosamente o
tomava nas mãos em conchinha, arrumava uma caixinha e ali ficava cuidando até
que o bichinho se recuperasse completamente.
Maria
se identificava com cada animal, cada um tinha um nome especial, passava horas
acariciando-os ou travando conversas que só ela entendia. Conhecia cada árvore,
cada cantinho, cada riacho onde mergulhava os pesinhos descalços, sorrindo de
prazer. Maria cheirava flor, Maria misturava-se com o vento que espalhava os
cachinhos enquanto corria pela alameda, pelos campos cercados por árvores de
copadas coloridas.
No
pequeno sítio a vida era tranquila. Sebastião o pai de Maria administrava tudo
com o maior cuidado. Tinha os agregados que cultivavam a terra e de lá tiravam
o sustento para toda a família.
Um
leiteiro que o ajudava a cuidar do gado. O leite da manhã era colocado num
caminhão que todo dia buscava para vender na cooperativa da cidade mais
próxima, já o leite da tarde era para alimentar a criançada, fazer o queijo e a
manteiga e ainda para o preparo de bolos e biscoitos que todos se fartavam.
Não
havia o consumismo que se vê nos dias de hoje, tudo se retirava da terra.
Somente uma vez por mês Sebastião ia à cidade para trocar o milho pela farinha,
beneficiar o arroz, comprar o sal, o toddy das crianças e alguns metros de
chita, sinhaninhas, fitinhas de cetim para dona Geralda enfeitar os vestidinhos
das meninas que moravam no sítio.
Não
fazia diferença das filhas, ela caprichava em todos, como se fossem uma só
família.
Nesse dia Maria e seu irmão Godofredo ficavam
acordados até mais tarde a espera da chupetinha açucarada que o pai trazia da
cidade.
- Só
uma hoje, dizia a mãe- para não dar dor de barriga
Frutas
era só querer, apanhava no pomar imenso logo ao lado da casa. Na horta
colhiam-se as verduras e legumes fresquinhos, ainda respingados pelo orvalho da
noite.
À
tardinha os agregados se juntavam perto da bica de água para lavar as enxadas
as foices e outros instrumentos usados. Mas, a família após um rápido jantar se
reunia no pequeno paiol para preparar o milho para as aves. Tinha de tudo: galinhas,
patos, gansos, angolinhas, garnisés. Mal começava a alvorada já era só alvoroço
das aves que acordavam cada qual com o seu modo de saudar a madrugada.
Outras
vezes era para fazer réstia de cebolas e alhos. Maria, muitas vezes acabava
adormecendo e sendo carregada pelo pai. Após um dia de estripulias, acabava
dominada pelo cansaço.
RETIRADO
DO LIVRO: O perfume das flores que plantei